TOMAR DO GERU (Cinform municípios)
Tomar do Geru, onde índios foram poderososCidade chamou-se Nova Távora e tem uma das mais antigas e belas igrejas de Sergipe
Já na divisa com a Bahia, o município de Tomar do Geru, a 131 quilômetros de Aracaju, tem uma história fantástica em termos de organização. Em Geru, onde existe uma das mais belas e antigas igrejas católicas de Sergipe, foi feita uma tentativa de colocar índios catequizados na administração municipal. Não fosse a invasão holandesa e a expulsão dos jesuítas, essa experiência poderia ter prosperado.
Essa história começa por volta de 1666, quando os padres jesuítas chegaram às terras que hoje são Tomar do Geru. Os religiosos encontraram no território um grupo de índios Kiriris, da rama vinda do sertão de Jacobina e do Rio São Francisco. Os jesuítas vinham da província de Minho, mais especialmente de uma cidade portuguesa chamada Tomar, sede dos religiosos templários.
Em 1692, a aldeia aparece num catálogo como Juru ou Geruaçu, que em tupi significa boca ou entrada, e que mais tarde viria a chamar-se Geru. Seus primeiros religiosos foram os padres Luiz Maniami, João de Barros, João Baptista, João Mateus de Falleto e o irmão Manuel de Sampaio. Este último era um estudante da língua dos Kiriris. Em 1695, o governo reconhece como aldeia aquela povoação nomeando um diretor.
Já na divisa com a Bahia, o município de Tomar do Geru, a 131 quilômetros de Aracaju, tem uma história fantástica em termos de organização. Em Geru, onde existe uma das mais belas e antigas igrejas católicas de Sergipe, foi feita uma tentativa de colocar índios catequizados na administração municipal. Não fosse a invasão holandesa e a expulsão dos jesuítas, essa experiência poderia ter prosperado.
Essa história começa por volta de 1666, quando os padres jesuítas chegaram às terras que hoje são Tomar do Geru. Os religiosos encontraram no território um grupo de índios Kiriris, da rama vinda do sertão de Jacobina e do Rio São Francisco. Os jesuítas vinham da província de Minho, mais especialmente de uma cidade portuguesa chamada Tomar, sede dos religiosos templários.
Em 1692, a aldeia aparece num catálogo como Juru ou Geruaçu, que em tupi significa boca ou entrada, e que mais tarde viria a chamar-se Geru. Seus primeiros religiosos foram os padres Luiz Maniami, João de Barros, João Baptista, João Mateus de Falleto e o irmão Manuel de Sampaio. Este último era um estudante da língua dos Kiriris. Em 1695, o governo reconhece como aldeia aquela povoação nomeando um diretor.
FORÇA POLÍTICA DA FÉ
A força da catequese feita pelos jesuítas era tanta que dos 400 índios, apenas 20 eram considerados pagãos. Lá foi construída a primeira escola de Sergipe. A aldeia chegou a ter os nomes de Geru e Missão de Nossa Senhora do Socorro. Mas a dominação dos jesuítas não impediu que os índios reagissem às tentativas de invasão dos portugueses.
Alguns religiosos teriam lutado ao lado dos índios porque os portugueses queriam escravizar os nativos.
As lutas ganharam tanta repercussão que o rei teve que intervir. E num documento histórico, a Carta Régia de 22 de novembro de 1758 declarava livres todos os índios do território sergipano, ao mesmo tempo em que transformava a aldeia de Juru em Vila de Nova Távora. E mais. Índios catequizados assumiram cargos no serviço público na vila.
A idéia da história oficial era que os índios ‘almados’ pudessem ser confundidos com a população branca, numa tentativa de extinguir os antagonismos. O documento, por exemplo, estabeleceu a eleição pelo voto direto dos moradores. Nova Távora era a primeira vila de Sergipe a viver essa experiência. (Veja nesta página trechos da Carta Régia de 1758).
EXPULSÃO E REGRESSO
Com a invasão dos holandeses a Sergipe, em 1759, os jesuítas foram expulsos pelo bando do vice-rei dom Marcos de Noronha e a experiência de administração popular em Nova Távora fracassou. Nessa época vivia lá o padre baiano Domingos de Matos. Foi ele quem fez a procissão solene a 8 de setembro de 1731 em homenagem a Nossa Senhora do Socorro, data da festa da padroeira do município.
Com a expulsão dos jesuítas, índios foram mortos e os que sobreviveram, escravizados. Novas batalhas aconteceram. Em 1765, um bando comandado por Izidório Gomes invade Nova Távora, que já estava sendo chamada de Tomar do Geru. Tomar fazia referência à cidade dos jesuítas; e Geru, de Jeru do tupi. Izidório ainda encontrou na vila um juiz índio e um branco, e índios servindo na Câmara.
Em 19 de fevereiro de 1835, a Vila de Tomar do Geru, que pertencia à Freguesia de Campos do Rio Real, hoje Tobias Barreto, foi extinta. A sede do município foi transferida para a Vila de Itabaianinha, deixando Geru reduzida a um Distrito de Paz, apenas com o nome de Geru. Curiosamente só 118 anos depois, já em 25 de novembro de 1953, Geru é transformada em cidade - lei sancionada pelo então governador Arnaldo Garcez -, e recebe o nome histórico de Tomar do Geru.
Em 3 de outubro de 1954, foi realizada a primeira eleição do município, que tinha apenas 668 eleitores, sendo eleito Pedro Silva Costa, o primeiro prefeito, e cinco vereadores. O final do seu mandato de quatro anos foi tumultuado. Tropas do 28º BC tiveram que tomar o município para reestabelecer a ordem. Pedro Costa foi eleito pela segunda vez em 1962, assumiu em janeiro de 1963, e em junho de 1964 foi deposto por causa do Golpe Militar. Além dele, foram prefeitos de Tomar do Geru: Baldoíno Vitório de Souza, José Viana Medeiros, João Valames Oliveira, Ulisses Guimarães da Fonseca, Pedro Silva C. Filho e Gildeon Ferreira da Silva.
ÍNDIOS NO PODER
A seguir alguns trechos da Carta Régia de 22 de novembro de 1758, onde o rei de Portugal estabelece uma “administração popular em Geru:
“Por me ser presente que a Aldeia de Geru, intitulada Nossa Senhora do Socorro sita na Freguesia dos Campos, termo da Vila de Lagarto, Comarca da cidade de Sergipe d’El Rei, tem capacidade de vizinhos e cômodos preciso para o dito efeito, sou servido ordenar que passando logo a dita Aldeia a Vila, estabelecereis nela (dirige-se ao Governador-Geral da Bahia) com o nome de Nova Távora - elegendo a votos do povo um dos seus moradores para juiz dela, que será tutor dos órfãos, três vereadores ou dois no caso de não haver número e um procurador do Conselho todos mais hábeis do dito e ainda na suposição de não achardes nela quem saiba ler e escrever, sempre com eles serão eleitos os mesmos índios e para três anos futuros fareis eleição de semelhantes oficiais guardando em tudo a formalidade e igualmente elegeries a votos do povo um homem que haja de ser escrivão da comarca que ora também servirá de tabelião das notas e escrivão do judicial e dos órfãos o qual, no caso de não haver na Aldeia, nacional dentre os índios com a necessária inteligência e notícia de processar, poderá ser nomeado um português com as referidas qualidades e a ele se lhe encarregará a obrigação de ensinar a ler e escrever aos meninos da Vila bem entendido que a todo o tempo que houver índio com aptidão para servir este ofício ou português casado com índia com as qualidades necessárias, qualquer destes sujeitos preferirá na serventia do referido ofício àquele em quem não concorrem estas circunstâncias”.
Igreja tem mais de 300 anos e é um monumento nacional
Uma das mais belas e antigas igrejas de Sergipe é a de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, padroeira de Tomar do Geru. Ela é tombada pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. A igreja foi erguida em 1688, pelo padre Luiz Mamiani della Rovere. Na porta existe a inscrição MDCLXXXVIII.
Historiadores da arte afirmam que a igreja de Geru é a mais bela de todas as igrejas missionárias do século XVII fora da cidade da Bahia. O ouro e as figuras barrocas são marcantes.
Existe uma lenda de que quando Tomar do Geru ainda era aldeia e a cidade já estava sendo levada, apareceu a imagem de Nossa Senhora do Socorro dentro de um gravatá no meio da mata, onde hoje é a igreja.
A imagem foi encontrada pelos índios Kiriris e entregue aos padres jesuítas, que a levaram para onde estava sendo construída a cidade, as casas, a capela e o cemitério. Mas à noite, a imagem teimava em voltar para a mata onde foi encontrada. Na manhã seguinte, a imagem de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro era transportada. Foram várias vezes levando e ela voltando, até que os padres decidiram construir uma igreja e lá colocaram a imagem de onde nunca mais saiu.
Outra lenda conhecida no município é a do Boqueirão. Numa capela onde existia muito ouro. Após a expulsão dos religiosos que zelavam pela capela, as pessoas retiraram todo o ouro e o transportaram em carro de boi para a cidade de Itabaianinha, para doar a Nossa Senhora da Conceição. No meio da viagem, o carro de boi quebrou o eixo, levando os transportadores a desistirem da viagem e a enterrarem o ouro.
:: Carro de Boi: forte tradição na cidade ::
O município tem uma forte tradição religiosa. No período da Quaresma, acontece a Lamentação das Almas, uma penitência realizada somente por homens. Na Sexta-Feira da Paixão é realizada a procissão dos penitentes, onde os homens fazem auto-flagelação. Em agosto ou setembro acontece a Festa do Carro de Boi.
Tomar do Geru Hoje
Região - Sul de Sergipe
Distância de Aracaju - 131 km
População - Cerca de 15 mil
Atividades econômicas - Agricultura (laranja) e pedra. Tem forte tradição do carro de boi
Texto: Cristian GóesFotos e reproduções: Manoel FerreiraFonte: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, e ‘Conhecendo Tomar do Geru’, de Albany Mendonça, Maria Lúcia, Marlene dos Santos e Telma Alves. Colaboração da secretaria de Educação do Município.
FONTE:
*Apesar deste texto ter caráter jornalístico, nos traz elementos para se rediscutir a história deste município. Em breve, postaremos o texto da professora Beatriz Gois Dantas, sobre a formação da cidade de Tomar do Geru.
Nenhum comentário:
Postar um comentário