terça-feira, 2 de outubro de 2007

Carro de Bois: nota histórica de um patrimônio cultural

Texto-aula do professor Amâncio Cardoso (CEFET-SE), Aracaju – SE, outubro de 2007.

CARRO DE BOIS: NOTA HISTÓRICA DE UM PATRIMÔNIO CULTURAL.

O carro de bois desempenhou importante papel na vida nacional. Foi trazido pelos portugueses desde meados do século XVI. Aqui, incorporou-se ao cotidiano da colônia nas mais diversas funções.
Durante o povoamento a América Portuguesa, o carro de bois conduziu materiais de construção para edificação das primeiras vilas, cidades, sobrados e fazendas.

Após o surgimento dos primeiros núcleos urbanos, o tradicional veículo levou do litoral para os sertões mercadorias que chegavam da Europa; e carregava para os pontos de embarque o pau-brasil e, depois, a cana - de –açúcar. Ele integrava-se, desse modo, nos primeiros esforços pela conquista da terra como importante instrumento de trabalho.

Com a ampliação dos canaviais, desde São Vicente-SP ao Maranhão, e com o aumento no número de engenhos de açúcar nos séculos XVIII e XIX, o carro de bois passou a ser meio de transporte imprescindível. Além da cana-de-açúcar, esse veículo multissecular transportou gêneros alimentícios, madeiras e diversos produtos consumidos por colonos, escravos e gentios; indo das roças para os paióis, e destes para as vilas e portos, e já no século XIX para as estações ferroviárias.

O carro de bois não desempenhou apenas função econômica (comércio e transporte). Durante séculos ele serviu para transportar famílias; comunicar povoações; divertir passeios e viagens nas zonas rurais durante festas sacras e profanas – missas, novenas, romarias, santas missões, casamentos, batizados, crismas, funerais, folguedos populares, comemorações cívicas, entre outros. Em tudo isso estava presente o carro de bois, fortalecendo relações sociais.

Acrescente-se às funções econômicas e sociais desempenhadas pelo velho transporte a função bélica. Nos serviços de guerra o carro de bois transportava munições e vitualhas, armas e apetrechos; como também servia às vezes de ambulância para doentes de feridos.
Ao longo dos anos os usos do carro de bois foram restringidos, e até extinto em algumas regiões, após o avanço dos motores de explosão.

No entanto, o rústico, o pesado, o vagaroso, mas seguro e resistente veículo, ocupou lugar preeminente em nossa história e se tornou inequívoco patrimônio cultural. Prova disso é que ele está representado em nossas manifestações folclóricas, artísticas e literárias.

Assim, a importância histórica do carro de bois pode ser traduzida na expressão de Bernardino José de Souza (1885-1949), estudioso do vetusto transporte: “sem ele não se teria varado, em caminhos tortuosos, o âmago das nossas matas ou os pendores das nossas serranias, a lama dos pantanais ou o pedregal dos tombadores; sem ele não se teria vingado a amplitude dos nosso sertões bravios, transportando, ligando, aproximando, servindo.”

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